24 março 2007
XVII Memória
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Pretextos para fugir do real
A uma luz perigosa como água
De sonho e assalto
Subindo ao teu corpo real
Recordo-te
E és a mesma
Ternura quase impossível
De suportar
Por isso fecho os olhos
(O amor faz-me recuperar incessantemente o poder da
provocação. É assim que te faço arder triunfalmente
onde e quando quero. Basta-me fechar os olhos)
Por isso fecho os olhos
E convido a noite para a minha cama
Convido-a a tornar-se tocante
Familiar concreta
Como um corpo decifrado de mulher
E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência
Nua nos meus braços
Contra o teu silêncio
Experimento um silêncio
Entro e saio
De mãos pálidas nos bolsos
Assobio às pequenas esperanças
Que vêm lamber-me os dedos
Perco-me no teu retrato
Horas seguidas
E ao trote do ciúme deito contas
Deito contas à vida.
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Alexandre O´Neill
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... Nuno at 01:39 0 cadernos
22 março 2007
14 março 2007
XI Sonho
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Desço, quase a rasar o solo, sobre a avenida da República, em direcção ao Saldanha, que oferece o seu aspecto habitual num fim de tarde de verão. Vinda da avenida Fontes Pereira de Melo e voando baixo como eu, surge uma mulher magnífica, solene, com um longo fato de renda negra cujo ondear a continua no espaço. Reunimo-nos sem trocar palavra, fitando-nos apenas, e, sem desvio na direcção comum, lado a lado traçamos lentamente dois círculos concêntricos à estátua de bronze, em baixo, afligida de grande circulação automóvel. Depois tomamos pela avenida Duque de Ávila, em direcção ao Arco do Cego, e sonho que acordo em casa do José Cardosos Pires, no Largo de Arroios. O dono da casa saúda-me jovialmente, não estranhando a minha súbita presença no seu quarto de estudante.
Mário Cesariny
excerto de "passagem dos sonhos"
visto nos Dias Felizes
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... marta (doavesso) at 13:16 0 cadernos
12 março 2007
XXII Visão
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Primavera Verão Outono Inverno
Kim Ki-Duk (2003)
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... marta (doavesso) at 17:47 1 cadernos
11 março 2007
XVI Memória
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do amor, na água abraçada do amor.
a falar
mas o ar não respondesse ao que te escuto, ou eu morresse.
Ou então não estavas já ali, descias no elevador ao encontro
do meu esquecimento.
a tentar convencer-nos do contrário.
Talvez possas ouvir-me o que me dizes dizer-te:
................................................... - cerca-me com o teu labirinto, tu
- põe à minha volta, a toda a volta, o teu labirinto
- tu, cerca-me com o teu labirinto, eu
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Manuel Gusmão
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... Nuno at 19:51 1 cadernos
10 março 2007
08 março 2007
XV Memória
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Esta noite chove. Chove em volta da casa e
sobre o mar também. O filme vai ficar assim,
como está. Não tenho mais imagens para lhe dar.
Já não sei onde estamos, em que fim de que amor,
em que recomeço de que outro amor, em que
história nos perdemos. Sei apenas quanto ao filme.
Apenas quanto ao filme, sei, sei que nenhuma
imagem, nem uma só imagem mais poderia
prolongá-lo.
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Marguerite Duras
O Homem Atlântico
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05 março 2007
XIV Memória
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UM LONGÍNQUO ADEUS
Falamos, melancólicos, às três da madrugada,
tristes, não demasiado bêbedos,
naquele ruidoso bar para noctívagos.
Curiosamente, insistimos no tema da morte,
e recordou-me outras conversas, outro tempo,
embora neste momento, fosse uma morte próxima - muito
pouco literária -,
sórdida e tangível como as manchas da toalha.
Na porta ao sair ficamos sérios,
sabíamos que de novo nos separávamos
e fingimos esquecê-lo com uma expressão banal.
Hoje, não sei porquê, voltam essas imagens
e gostaria de reviver aquela noite,
nem melhor nem pior, o que foi, simplesmente.
Reter por um momento, só por um momento,
a humidade dos teus olhos, o ricto do teu sorriso,
o que me chega como uma pintura desbotada,
ou como, ao despedir-nos, as gotas de chuva no vidro do carro,
a desenharem um caminho, a resvalarem, a apagarem-se.
Juan Luis Panero
... marta (doavesso) at 01:27 0 cadernos
04 março 2007
01 março 2007
XIII Memória
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Poderia ter escrito a tremer de respirares tão longe
Ter escrito com o sangue.
Também poderia ter escrito as visões
Se os olhos divididos em partes não sobrassem
No vazio de ceguez
E luz.
Poderia ter escrito o que sei
Do futuro e de ti
E de ter visto no deserto
O silêncio, o fogo e o dilúvio.
De dormir cheio de sede e poderia
Escrever
O interior do repouso
E ser faúlha onde a morte vive
E a vida rompe.
E poderia ter escrito o meu nome no teu nome
Porque me alimento da tua boca
E na palavra me sustento em ti.
Daniel Faria
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... Nuno at 15:22 1 cadernos