20 novembro 2007

XXVIII Memória

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Escavo o rasto dos teus passos:
o mundo
derrama-se
na cavidade que fica,

volto a amar-te
no limite febril de mim mesmo,

tu folheias, agora terra fina,
os meus remotos
testemunhos.
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Paul Celan
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XXXVI Visão

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Juncos Silvestres (1994)
André Téchiné
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16 novembro 2007

Ano I

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para ti, um ano
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Inspiro-me na minha alegria, na morte guardada. Vivo sobre uma dolorosa parcimónia, às vezes uma dissipação da masculinidade, como se tudo fosse uma doença contraditória. Inspiro-me no que é uma força e também uma vulnerabilidade, diante da lembrança e do esquecimento. Porque a memória tem a sua parte de esquecimento. Depois é um ritmo, uma libertação. Encho folhas de papel com essa trama subtil e exasperada feita de memória, a atentas expensas de esquecimento. É o relatório do medo lido ao inverso.
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(os cadernos imaginários)
Herberto Helder
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XXXV Visão

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Intimidade
Patrice Chéreau (2001)
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07 novembro 2007

XV Sonho

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... sonho com uma velhice silenciosa e melancólica, a mão esquecida sobre a cabeça de um cão. o olhar preso ao cíclico fascínio das águas e dos jardins. sonho com uma velhice onde a solidão não doa. solidão superpovoada de amigos, de silhuetas andróginas para o amor, de rostos belos como sensações de sorrisos, de mãos que aprenderam a falar.

Al Berto
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