12 setembro 2007

XXV Memória

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É noite e arde à nossa volta
tudo o que um dia foi nosso mas perdemos
ao fundo das escadas da infância.

Amadeu Baptista
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05 setembro 2007

XXXIV Visão


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5x2 (2004)
François Ozon
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01 setembro 2007

XXIV Memória



... Além de não ter encantos e de estar vestida de uma maneira de que é difícil mostrar o ridículo, eu não me distinguia pela beleza. Era pequena e bastante mal feita, magra, crivada de sardas, sobrecarregada por duas tranças ruivas que me caíam até metade das coxas (digo tranças mas seria mais conveniente dizer cordas, de tal modo a minha mãe apertava e puxava os meus cabelos), estava queimada pelo sol porque na plantação vivíamos mais ou menos sempre fora de casa (e nessa altura a moda em Saigão era a pele branca). As minhas feições, bastante regulares, teriam podido passar por belas mas a expressão hostil, taciturna e obstinada do meu rosto deformava-as completamente e não se dava por elas. Eu tinha um olhar mau que a minha mãe qualificava como "venenoso". Para concluir, quando encontro fotos dessa época, busco em vão uma doçura nas minhas feições, uma suavidade. Os caros amigos da minha mãe diziam que eu viria a ser bonita - que eu possuía uns belos olhos mas era necessário que usasse óculos porque tinha certamente qualquer coisas, o meu olhar não era natural.



Marguerite Duras

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