28 novembro 2006

V Memória

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Às vezes, nos momentos trágicos, já não é contigo que eu deparo - é com outro ser que assiste sempre, como um espectador, a todos os meus exageros. Deitavas-te comigo, levantavas-te comigo, ferrada como um punhal - e não existias. Neguei-te. Expliquei-te. Reduzi-te às tuas verdadeiras proporções - e tu não existias! Atormentaste-me e fizeste-me sofrer mesmo quando já compreendera que não existias. E agora mesmo, quando o universo é outro universo, ainda encarniças sobre em mim como um fantastma.

Escusas de te rir - tu não existes.
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Raul Brandão
Húmus
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1 comentário:

Graça disse...

Gosto de Raul Brandão, sobretudo o que encontro em Húmus, O Avejão e As Ilhas Desconhecidas. Esse que escreves as palavras "inteiras".