06 dezembro 2006

VI Sonho

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Havia borboletas. Entravam pelas fechaduras das casas e ao chegar lá dentro evaporavam-se em cores lilases e amarelas, dando constantemente outro aspecto ao interior. Pastoras e prados em cima das mesas, por baixo dos cinzeiros. Uma pereira a tentar desesperadamente crescer na estante entre dois livros. Um oceano boiando por baixo da carpete. Barcos e vento subindo e descendo o corredor. As facas da cozinha talhando grutas no azulejo. E cada tecto evaporado, uma vertigem, lágrimas pingando da torneira para o lavatório, toda a noite, toda a noite.
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Manuel Cintra
Do Lado de Dentro
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